ATA DA TRIGÉSIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 04.09.1989.

 


Aos quatro dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Quarta Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega do título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Cantor e Compositor José Bispo Clementino dos Santos, Jamelão, concedido através do Projeto de Lei do Legislativo nº 50/89 (proc. nº 1321/89). Às dezessete horas e quarenta e dois minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Prof. Olívio Dutra, Prefeito de Porto Alegre; Sr. Rubens Santos, representando o segmento dos Intérpretes; Sr. Túlio Piva, representando o segmento dos Compositores; Prof. Darcy Alves, representando o segmento dos Músicos; Cantor  Carlos Medina, representando o Grupo União dos Puxadores de Samba de Porto Alegre; Sr. Lupicínio Rodrigues, filho do Compositor Lupicínio Rodrigues, representando sua família; Sr. José Bispo Clementino dos Santos, Homenageado; Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Casa. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Artur Zanella, em nome da Bancada do PFL, congratulou-se com o Ver. Dilamar Machado pela proposição desta homenagem, falando do talento artístico do Sr. José Bispo Clementino dos Santos. Ressaltou, em especial, suas interpretações das músicas de Lupicínio Rodrigues. O Ver. Adroaldo Correa, em nome das Bancadas do PT, PSB e PCB, disse representar esta Sessão o reconhecimento da Cidade a um dos grandes nomes da música brasileira e, também, uma homenagem ao nosso Carnaval. Analisou os aspectos sociais, políticos e culturais observados nos sambas-enredo apresentados pelas escolas de samba do País. O Ver. Dilamar Machado, autor da proposição e em nome das Bancadas do PDT, PDS, PMDB, PTB e PL, discorreu sobre o significado do título ora entregue. Relatou seu primeiro encontro com o Homenageado, dizendo resgatar-se hoje uma dívida de gratidão com este que é um dos maiores intérpretes do Compositor Lupicínio Rodrigues. Após, o Sr. Presidente convidou os presentes a, de pé, assistirem à entrega, pelo Prefeito Olívio Dutra e pelo Ver. Dilamar Machado, respectivamente, do Diploma e da Medalha de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. José Bispo Clementino dos Santos. Em continuidade, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o título recebido e cantou música de autoria de Lupicínio Rodrigues. Durante os trabalhos, o Sr. Presidente registrou as presenças, no Plenário, dos Senhores José Carlos Mello D’Ávila, Presidente da EPATUR; Adaucto Vasconcelos, representando o Vice-Prefeito, Tarso Genro; Paulo Sant’Ana; Abraão Lerrer; Jaime Lubianca; Chiquinho Rodrigues e Johnson. Às dezoito horas e vinte e seis minutos, o Sr. Presidente convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE: Damos por  abertos os trabalhos. Solicitamos aos Vereadores presentes que conduzam, por gentileza, as autoridades e personalidades convidadas, em especial o nosso grande homenageado de hoje, Jamelão, nosso amigo. Ver. Adroaldo Corrêa, Jaques Machado e Dilamar Machado, nos façam o favor de conduzirem ao Plenário as autoridades. (Palmas.)

Vão fazer parte da Mesa para honra nossa o Prefeito Olívio Dutra; o Sr. José Bispo Clementino dos Santos, nosso homenageado; Rubens Santos, representando o segmento dos Intérpretes; o Sr. Túlio Piva, representando o segmento dos Compositores; Professor Darci Alves, representando o segmento dos Músicos; o Cantor Carlos Medina representando o Grupo União dos Puxadores de Samba de Porto Alegre; o Sr. Lupicínio Rodrigues, filho do compositor Lupicínio Rodrigues, representando, neste ato a sua Família e Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário. Esta homenagem foi requerida pelo Ver. Dilamar Machado e aprovada por esta Casa, por unanimidade. Pois bem: Lupicínio Rodrigues foi o maior compositor que o Rio Grande do Sul deu ao Brasil, grande parte desse êxito do nosso saudoso Lupi deve-se a um cidadão nascido no Rio de Janeiro. Este cidadão é chamado José Bispo Clementino dos Santos, que muita gente não conhece pelo nome, pois é mais conhecido por “Jamelão”, também, uma das legendas da música popular brasileira, que para a satisfação nossa, desta Casa, de Porto Alegre, do Rio Grande, do País inteiro está, aqui, do nosso lado, para receber o título merecido que o Ver. Dilamar Machado indicou a Casa, e que foi aprovado por unanimidade.

Com a palavra, o Ver. Artur Zanella, pelo PFL.

 

O SR. JAQUES MACHADO: Ver. Artur Zanella, antes de V. Exª começar seu pronunciamento, gostaria de pedir que V. Exª usasse a palavra, também, em nome da Escola de Samba Império da Zona Norte e, também, em nome da Sociedade Gondoleiro, porque Jamelão, no Carnaval de 1962, foi intérprete do samba enredo destas sociedades, quando o Carnaval era, ainda, na João Alfredo.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: (Menciona  os componentes da Mesa.) O Ver. Jaques Machado evoca a primeira data, do que tenho certeza será, hoje, um festival de evocações. O Ver. Jaques Machado, que labuta nesta área da música popular brasileira, diz que em 1962 Jamelão puxou o samba enredo, e este termo “puxou” sei que o nosso homenageado não gosta muito, mas é um termo local, ele interpretou a música do Gondoleiros e eu fiz questão, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, de hoje falar aqui, porque esta Casa é uma Casa política, é uma Casa de posições ideológicas definidas, antagônicas, mas é uma Casa, também, que num determinado momento tem a sua unanimidade que são os momentos vividos neste horário. E essa unanimidade desta Casa, que é a de homenagear nossas grandes figuras, neste momento, também traz junto com a alegria de estar aqui, no meu caso, a inveja de não ter sido eu o autor deste Requerimento que transformou nosso homenageado em Cidadão de Porto Alegre.

Eu, este ano, estive no Rio de Janeiro e fui lá assistir ao Espetáculo “Cinco e Meia”, com o nosso homenageado e a Marisa Gata Mansa. Das doze músicas que constavam do programa, ele deve ter cantado umas 18 do Lupicínio Rodrigues. E eu acho que foi a primeira vez que meu filho viu Lupicínio Rodrigues ao vivo, e sim ouvia em disco, ele tinha uma curiosidade para saber quem era Mariza Gata Mana. O que demonstra que os jovens, que estão um pouco fora da música popular brasileira, o estão por desconhecimento do que na verdade são os grandes nomes da música popular brasileira. Então fica o meu primeiro sentimento, o sentimento  de inveja, porque gostaria de ter sido eu o autor desse Requerimento, apesar de não conhecer pessoalmente o Jamelão, mas o Ver. Dilamar Machado, que é seu amigo particular, merece efetivamente ser o autor do Requerimento.

Em segundo lugar, Ver. Dilamar Machado, V. Exª resgata a primeira imagem que eu tenho de uma celebridade. Lá por 1953/1954 eu era um menino, lia muito a “Revista Cruzeiro”, e um orgulho imenso eu tinha ao ver o Embaixador Assis Chateaubriand, naquela época tinha levado para Paris, Palácio de Versalhes, a Orquestra Tabajara de Severino Araújo para abrilhantar o baile de debutantes da França daquele ano. Essa orquestra, esse conjunto, depois veio ao Rio Grande do Sul e veio a Porto Alegre, a Santa Maria, veio a Uruguaiana e no final, provavelmente, das suas excursão foi Itaqui, onde eu me criei. E pela primeira vez na minha vida eu vi um cantor do Rio de Janeiro, pela primeira vez eu vi uma celebridade na frente. Meu pai era Secretário do Clube de Comércio de Itaqui, e o Jamelão cantou no Clube e na praça pública, naquele descampado de Itaqui eu conheci o primeiro nome da música popular brasileira em carne e osso. E aquilo me marcou profundamente e, hoje, eu queria, nesta breve manifestação, dizer que aquela alegria que ele deu àquele menino, naquela época, ele fez para todo o Brasil, e é por isso que o Senhor é homenageado. Eu dizia, encerrando, que, efetivamente, se perguntarem quem é o Sr. José Bispo Clementino dos Santos, é difícil que as pessoas saibam quem é. Se perguntarem o nome dos candidatos, ou da maioria dos candidatos à Presidência do Brasil, muitos não sabem quem é aquele candidato, ou aqueles candidatos, mas se perguntarem quem é o Jamelão, esse nós todos sabemos, o Brasil sabe, o Rio de Janeiro, que é sua Cidade sabe, e espero que no futuro nossos filhos, nossos netos se lembrem que, nesta tarde, além de Cidadão do Rio de Janeiro, Cidadão do mundo, o Sr. José Bispo, o Jamelão, também é um Cidadão de Porto Alegre. (Palmas.) Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  Registramos, com prazer, a presença do Sr. José Carlos Mello D’Ávila, Presidente da EPATUR; do Jornalista Adaucto Vasconcelos, representando o Vice-Prefeito, Tarso Genro; querido Paulo Sant’Ana, Abraão Lerrer, Jaime Lubianca, Chiquinho Rodrigues e o Johnson. Com a palavra o Ver. Adroaldo Corrêa, que falará em nome de sua Bancada, o PT, e do PCB e PSB.

 

O SR. ADROALDO CORRÊA: (Menciona os componentes da Mesa.) Falo em nome do PT, do PSB e PCB. Direi breves palavras, porque creio que a Sessão tem o gesto significativo de uma Cidade reconhecer um cidadão do mundo como foi colocado antes pelo Ver. Artur Zanella, o seu compromisso de cidadania, também, com Jamelão que nasceu na Vila Isabel, não é da Escola, mas é da Mangueira, e abraçou o samba em definitivo, mas também a seresta que é uma variação do samba de quadra, do samba da rua, da escola e que, se nós formos notar o tom e o andamento, muito pouco músico, muito pouco cantor consegue fazer as duas coisas simultaneamente: ser aquele que puxa uma escola de samba com milhares de componentes na Avenida, expressando a alma de sua quadra de seu povo, e ao mesmo tempo cantar, como se cantasse num pequeno recinto, uma seresta ao ouvido da mulher amada. O músico, cantor, compositor Jamelão faz isso com excelência e pelos ouvidos entra na alma do povo brasileiro, desde os primeiros momentos. Tem, também, a referência que a escola de samba leva ao Brasil e ao mundo inteiro de resgate das manifestações culturais coletivas, que se expressam nesta atividade que, eventualmente, alguns conhecem no carnaval mas que se realiza o ano inteiro de envolver uma comunidade, de envolver uma cidade, de envolver um país inteiro, mas que muitas vezes lhe é negado o espaço de expressão, de organização e de permanência na cultura desta mesma sociedade.

O desenvolvimento da cidade – e esta cidade lhe dá este título que honra a pessoa que recebe e a cidade que concede – retira ao longo do tempo, principalmente nas metrópoles, os espaços dessa manifestação coletiva que nós estamos homenageando, aqui, hoje. Também por isso esta homenagem é importante, porque a cidade deve saber e aprender  a conviver com estas manifestações que são do povo, de sua origem e da construção de sua identidade. Nós achamos que há humildade também está nestes gestos em que um compositor vai a uma quadra, defende um samba, como o Jamelão fez em 1988, e consegue ver que a sua escola tem um outro samba e ninguém na interpretação reconhece que aquele não é o seu samba, o seu autor, porque intérprete, cantor, puxador de escola, Jamelão não permite que esta veia do individual se expresse no canto coletivo que era toda uma raça naquele anti-centenário da Abolição. Foi com muita alegria que a gente ouviu no Brasil inteiro a Mangueira dizer muito alto que, sim, liberto da senzala, mas preso na miséria da favela. Alegria da consciência de que isto passava, também, por uma manifestação cultural naquele momento que se expressava, não apenas na avenida do carnaval do Rio de Janeiro, porque aquele evento pretendia marcar que a Abolição da Escravatura fazia  cem anos e, na verdade, toda comunidade brasileira que, democrata luta contra o racismo, entendia que aquela comemoração, naquele momento não era válida, porque liberto, sim, dos grilhões, foi aprisionada na falta de possibilidades de exercer com independência e soberania individual, enquanto povo, a sua sobrevivência. Sem terra, sem ofício o negro que foi liberto, ainda que cumpria os objetivos de um movimento abolicionista, não foi preservado enquanto mão-de-obra que pudesse ser aproveitada no processo industrial nascente que, depois, se verificaria nas décadas seguintes. Ainda hoje esse marco da expressão coletiva do canto de um povo todo, expresso naquele carnaval de 1988, não apenas pela Mangueira, mas também pela vitoriosa União da Vila Isabel, revela que está entre nós um elemento que devemos fazer o máximo possível para que seja suprimido da coexistência entre os homens, que é a discriminação.

O Título que o Partido dos Trabalhadores também votou a favor, que o PSB também votou e que o PCB também votou, para nós tem, também, esta marca, a marca de erguer bem alto a bandeira da igualdade entre os homens, assim como Jamelão, com a sua voz imponente, mas que acaricia, ergue a voz do seu povo, da sua escola, do seu gesto de poeta na Avenida ou na pequena sala. Eram as palavras que nós gostaríamos de ter dito, sendo que fica, aqui, o nosso reconhecimento enquanto cidadão brasileiro que vê na figura de Jamelão uma importante contribuição à cultura do povo deste País. Muito obrigado.

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Dilamar Machado, autor da proposição, que falará pelas Bancadas do PDT, sua Bancada, PDS, PMDB, PTB e PL.

 

O SR. DILAMAR MACHADO: (Menciona  os componentes da Mesa.) Demais companheiros e amigos aqui presentes, especialmente gente da noite que veio aqui conviver com Jamelão este momento.

Eu gostaria de dizer ao Jamelão o que significa, para nós de Porto Alegre, entregarmos este Título de Cidadão ao cantor, ao intérprete, compositor Jamelão. Uma cidade, ela é mais do que um aglomerado de edifícios, de ruas, de praças, de monumentos. Uma cidade é feita, fundamentalmente, de pessoas. E Porto Alegre, particularmente, a Cidade em que vivemos, a Cidade que elegemos para ser a nossa casa, o nosso lar, a nossa vida, é uma Cidade rica em pessoas. Ainda, antes de vir à tribuna, eu pensava no número interminável de pessoas maravilhosas que habitam esta Cidade. Quantas pessoas boas passaram por aqui, quantas já se foram! Quantas conosco conviveram nos momentos de poesia, de música. Lembrar, nesta hora, é importante, as figuras saudosas, queridas, inesquecíveis de um Jessé Silva, de um Peri Cunha, do Clio, da Cléa Ramos, do Carlos Nobre e tantas pessoas que fizeram a noite de Porto Alegre mais agradável, mais amiga. Porto Alegre que tem ambientes, Jamelão, que tu conheces tão bem. Porto Alegre do Bom Fim; Porto Alegre dos bares de Ipanema; Porto Alegre antiga, do Marabá, do American Boite, do Maipu; Porto Alegre do sanduíche do Matheus, na madrugada; do chope no Twuing; da sopa de cebola na Tia Dulce, nas madrugadas, ou do filé do Treviso. Porto Alegre, efetivamente, é uma cidade encantadora. Sei que o nosso Prefeito, Olívio Dutra, não é um cidadão porto-alegrense, como eu também não sou, meu conterrâneo lá das Missões, de São Luiz Gonzaga, elegeu a Cidade de Porto Alegre como a Cidade e, talvez por uma interação com o povo de Porto Alegre, foi eleito Prefeito e aqui está nos honrando com a sua presença, na hora em que Jamelão vem receber o seu título. Porto Alegre também tem cronistas e são tantos aqueles que cantam a nossa Cidade, que escrevem a nossa Cidade e que a eternizam. Destacaria a presença do Paulo Sant’Ana, meu amigo de infância, guri da Azenha, da nossa inesquecível Esquina do Pecado, da Barão do Triunfo com 20 de Setembro. Aquela esquina tem tanta história que eu até me propus a junto do Sant’Ana, escrever um livro sobre a Esquina do Pecado, porque ela é maravilhosa, tem figuras inesquecíveis e fantásticas, do ponto de vista humano. Mas eu gostaria de dizer aos companheiros da Casa como eu conheci o Jamelão. Faz muitos anos é verdade. Eu trabalhava em rádio, na época, e fazia um programa que procurava, a exemplo do Jamelão e de outros tantos cantores que nunca fizeram concessão à música internacional, que nunca fizeram concessão aos modismos musicais, procurava sempre prestigiar os valores nacionais. Num determinado dia, chegou no meu programa o Lupicínio Rodrigues, levando ao lado o Jamelão. Até então, eu não havia conversado com ele. E, naquela manhã, há muitos anos atrás, uma entrevista que deveria durar talvez uns dez minutos, em função do tempo de rádio, acabou ocupando o programa inteiro. Ficamos até o último minuto no programa, quando o Lupicínio olhou para mim e para o Jamelão e disse: meu camarada, já é mais de meio-dia e nós não tomamos nenhuma “birita” ainda. Foi quando saímos e eu comecei a conhecer melhor o Cidadão José Bispo. Tive, depois, o privilégio de conviver com a sua família, com a figura maravilhosa da sua esposa que tem o nome de Delice Ferreira dos Santos, mas que na realidade é a Didi, uma das melhores cozinheiras deste País e umas da melhores figuras humanas que nós conhecemos na nossa família. E sua filha Jô e também seus netos: a Manoela e o Thomas que eu praticamente vi nascer e cada vez que eu vou ao Rio de Janeiro, que visito o Jamelão, vejo-os crescendo, se transformando em figuras maravilhosas do ponto de vista humano e eu sei o carinho enorme que o Jamelão tem por aqueles netos.

Mas Porto Alegre, Jamelão, como eu vinha dizendo, é uma Cidade que tem muita gente, profundamente ligada à música. Eu tenho testemunhado, nestes últimos anos, onde vou com Jamelão, o carinho que ele recebe de qualquer setor da sociedade. Jamelão não é um cantor estratificado, não é um cantor de um determinado nível social, ele é um cantor extremamente popular. Ainda na noite passada, quando ele foi comigo visitar uma pequena festa na Estação Primeira da Figueira, lá no Morro Santana, quando entramos na quadra eu vi a explosão de carinho do povo, todos batendo palmas e recebendo o Jamelão como uma pessoa nossa. Acho que esta Casa, não pela minha iniciativa, acho que foi uma iniciativa coletiva resgata, hoje, pelo menos um preito de gratidão ao Jamelão por todas as razões já mencionadas pelos Vereadores que me antecederam, mas por uma que considero fundamental, meu querido Chiquinho que aqui está, lembrando até na sua semelhança física, a figura inesquecível de Lupicínio Rodrigues, que se vivo estivesse neste ano, no dia 16, estaria completando 75 anos de vida. Pois o Jamelão desde que conheceu o Lupicínio, ele já me contou esta história muitas vezes, passou a ser, dizem alguns comentaristas “um dos maiores intérpretes”, eu não tenho dúvidas, é o maior intérprete de Lupicínio Rodrigues pela situação do Jamelão  de ser um cantor famoso, consagrado, sério, sem fazer concessões e que teve, sempre, o que não ocorre com a maioria dos nossos cantores, hoje, lamentavelmente, por questões econômicas, sempre teve uma gravadora, um canal de gravação para apresentar os seus álbuns, as suas músicas e quantos anos que o Jamelão vem gravando e regravando. Ainda, recentemente, lançou um novo disco com músicas do Lupicínio Rodrigues. E pela excelência da voz que ele tem, aliás o Jamelão tem uma informação quando lhe perguntam: como é que alguém pode ser um bom cantor ou uma boa cantora? Não sei se faço inconfidência com o Jamelão, mas ele diz o seguinte: “Precisa ter gogó e talento”. E eu acho que Jamelão esbanja nisso. Em matéria de voz é indiscutivelmente uma das mais belas vozes da história musical desse País. E junto com o talento, com a honestidade, com o compositor, cantor, intérprete de carnaval, o Jamelão tem algo que me encanta que é a humildade. A humildade como sentimento, como qualidade pessoal, sem ser subserviente. Ele é humilde até quanto pode ser. Eu diria que é uma figura humana inesquecível, fantástica, e faria até, sem agredir o meu amigo Jamelão, uma imagem da sua presença aqui nesta Casa. Quantos, Cartola, Noel Rosa, Lupicínio, já se foram, nos deixaram. Momentos da música brasileira. Ainda há pouco alguém me dizia, aqui nos corredores, meu caro Lubianca, o Jamelão é um monumento vivo. Um monumento que anda, que fala e que canta. São décadas de história da música brasileira. Eu muitas vezes o entrevistei no rádio, ouvi suas entrevistas e muito aprendi com o Jamelão.

E agora, ao encerrar o meu discurso, tomo a imagem criada pelo Ver. Adroaldo Corrêa. Indiscutivelmente, para o povo do carnaval aqui presente, é muito dura a vida do carnavalesco neste País. É muito difícil, o Ver. Jacão sabe disso, o Ver. Zanella sabe, o Medina sabe, minha querida Zilá Machado sabe disso, meu amigo Ademar, lá quietinho, sabe como é difícil levar uma escola para a avenida. Meu caro José Carlos D’Ávila, Presidente da EPATUR, que está hoje se ambientando, pela força do cargo honroso que tem na administração do PT, sabe como são difíceis os caminhos das escolas de samba. Agora, como é linda a voz de um homem que tem a vibração e o talento do Jamelão, quando entra na Sapucaí, naquele sambódromo interminável, aquela enorme avenida, milhares de pessoas, quatro, ou cinco ou seis mil integrantes de uma escola de samba e a voz do Jamelão ecoa pela Avenida como um grito de guerra. E aquilo marca a sensibilidade a todos nós.

Por isso, meu amigo Jamelão, quando receberes daqui a pouco o título de Cidadão de Porto Alegre, por força de Lei aprovada por esta Casa, sancionada pelo Prefeito Olívio Dutra, tu terás e nós todos, além do orgulho de tê-lo  como conterrâneo, uma pontinha de inveja. Porto Alegre a partir de hoje se enriquece mais. Dentre os seres humanos aqui presentes já citados eu lembraria o Professor Felizardo, uma das figuras da cultura dessa Cidade, nossos companheiros Vereadores, todos aqueles presentes já citados por outros companheiros, a partir de hoje Porto Alegre tem mais um cidadão, e não é um cidadão eventual; é um cidadão que continuará vindo a esta Cidade e aqui permanecendo fazendo de Porto Alegre um palco das suas emoções, das alegrias, das suas conquistas e também das suas frustrações. Meu abraço, o meu carinho e que Deus proteja o nosso novo Cidadão Porto-alegrense,  que por muitos e muitos anos, Jamelão, possamos ainda vê-lo, ouvi-lo interpretando a Música Popular Brasileira e levando sempre que possível, ao maior momento da grande festa mágica desse País, que é o Carnaval, a tua querida e inesquecível Estação Primeira da Mangueira. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós convidamos os presentes para, de pé, assistirem à entrega do Diploma pelo Sr. Prefeito e a Medalha pelo nosso querido Ver. Dilamar Machado.

 

(O Sr. Dilamar Machado entrega a Medalha de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. José dos Santos.)

 

(O Sr. Olívio Dutra entrega o Diploma ao Sr. José dos Santos.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós concedemos a palavra ao nosso homenageado, o nosso mais jovem Cidadão de Porto Alegre, o Jamelão.

 

O SR. JOSÉ BISPO CLEMENTINO DOS SANTOS:  Srs. Vereadores, Sr. Presidente da Mesa e demais Pares, senhoras e senhores presentes, o título de Cidadão Porto-alegrense que me foi entregue, neste momento, é o maior prêmio que um cidadão pode receber. Eu não tenho nem alcance para agradecer e dizer da minha satisfação de estar aqui, neste momento, recebendo esta homenagem.

A vida nos ensina a procurar fazer da nossa profissão uma coisa que eu imagino, muitos, às vezes, não tem o alcance, mas eu trabalhei, através de um companheiro porto-alegrense que me deu condições de estar aqui, neste momento, recebendo essas horas e este título: através de Lupicínio Rodrigues eu cheguei onde estou, porque com suas composições eu aprendi a conquistar a preferência do povo do Brasil, porque muita coisa tem sido feita, neste País, mas as músicas de Lupicínio Rodrigues são marcantes através de gerações, e têm sempre uma mensagem de consolo para todos aqueles que têm os seus problemas de “dores de cotovelo”.

E isso eu tenho que agradecer muito ao meu conhecimento com Lupicínio Rodrigues. Ele teve a confiança de me entregar, quando me conheceu, músicas de sua autoria para que eu as interpretasse. Eu procurei fazer com que elas se tornassem conhecidas no Brasil todo e que permanecessem sempre na memória de todos. Isso faria hoje, manhã e sempre na minha vida, porque sempre admirei o poeta e o compositor. Portanto, quero agradecer a lembrança do meu amigo Dilamar Machado e de todos os seus companheiros da Câmara pela distinção que me conferiram. O meu muito obrigado a Porto Alegre, a todo o Rio Grande do Sul, conforme ainda agora há pouco nos referimos, a Itaqui, uma das cidades do Rio Grande do Sul que eu me lembro e houve até um caso muito interessante na ocasião em que lá estive, porque eu estava com a Orquestra Tabajara e nós fomos fazer o show na praça e, não sei como, durante o espetáculo, o 1º Trompete da Orquestra foi visado com um ovo – jogaram um ovo em cima da cabeça do trompetista. Aquilo marcou muito, a gente levou anos sempre lembrando isso. Sempre quando nos encontramos, às vezes comentamos isso, coisas marcantes nas nossas andanças por esse Brasil. Desde já agradeço a todos, os que vieram, os que não vieram, mas que se lembram sempre da gente, o meu muito obrigado. Creiam mesmo que volto para o meu Rio de Janeiro, mas o coração fica. O coração é porto-alegrense. Muito obrigado. (Palmas.)

Eu gostaria de atender a um apelo que foi feito não só pelo meu amigo Dilamar, como também por uma das TVs, de que eu deveria fazer aquilo que só sei fazer, que é cantar. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

(É interpretada a canção “Ela disse-me assim.”) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h26min)

 

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